domingo, 25 de maio de 2014

QUEM ESCREVER HEBREUS?


Quando Origines, o teólogo do século 3“, foi questionado sobre a autoria de Hebreus, disse: “Mas só Deus sabe com certeza quem escreveu a epístola.” Ele disse isso em 225 d.C. Se os estudiosos no alvorecer da Era Cristã não sabiam quem escreveu Hebreus, nós certamente não sobressairemos a eles.

 Apolo

É claro que os eruditos têm sugerido possíveis candidatos, mas eles recorrem a hipóteses. Martinho Lutero, por exemplo, pensava que Apolo fosse o autor de Hebreus. Ele baseou sua hipótese em Atos 18.24-26, “Nesse meio tempo, chegou a Efeso um judeu, natural de Alexandria, chamado Apoio, homem eloquente e poderoso nas Escrituras. Era ele instruído no caminho do Senhor; e, sendo fervoroso de espírito, falava e ensinava com precisão a respeito de Jesus, conhecendo apenas o batismo de João. Ele, pois, começou a falar ousadamente na sinagoga. Ouvindo-o, porém, Priscila e Áquila, tomaram-no consigo e, com mais exatidão, lhe expuseram o caminho de Deus.” Lutero enfatizou que Alexandria era um grande centro educacional, onde Apolo aprendeu a se expressar com habilidade na língua grega. Apolo usou a tradução Septuaginta do Antigo Testamento porque a Septuaginta foi primeiramente publicada em Alexandria. Apolo familiarizou-se com a fé cristã, ouviu Paulo pregar em Éfeso e foi instruído “no caminho de Deus mais adequadamente” por Priscila e Áquila. Ele “era poderoso nas Escrituras”, “ensinava com precisão a respeito de Jesus Cristo” e tornou-se um destacado pregador. Para Martinho Lutero, Apolo era o mais qualificado para escrever a Epístola aos Hebreus.

A hipótese é de fato atraente e responde a várias perguntas. No entanto, o silêncio dos séculos é revelador. Nós esperávamos que Clemente de Alexandria, em 200 d.C., dissesse algo sobre este assunto, mas ele omite o nome Apolo. Em vez disso, ele atribui Hebreus a Paulo.

Paulo

Foi Paulo o autor de Hebreus? Por séculos as pessoas têm aceito a autoria paulina dessa epístola. Desde a primeira publicação da versão King James em 1611, até hoje, muitas pessoas têm tomado o título literalmente: “A Epístola de Paulo o Apóstolo aos Hebreus”. Mas na margem de algumas Bíblias dessa versão o leitor encontra: “Autoria incerta, geralmente atribuída a Paulo”.

A incerteza da autoria paulina deriva da diferença entre as epístolas de Paulo e a de Hebreus. Começando com a linguagem de Hebreus, nós vemos uma diferença distinta.Nada em Hebreus nos lembra o estilo, a expressão, a escolha de palavras e o material das cartas de Paulo. A linguagem de Hebreus simplesmente não é a de Paulo. As doutrinas encontradas em Hebreus não encontram eco em qualquer das epístolas de Paulo. Geralmente, nessas cartas, referências cruzadas das doutrinas principais são evidentes. Mas não é assim em Hebreus. As doutrinas do sacerdócio de Cristo e do pacto são exclusivas de Hebreus, mas ausentes das cartas de Paulo. O uso dos nomes se referindo a Jesus, em Hebreus, difere dos de Paulo. Em suas primeiras epístolas, Paulo refere-se ao Senhor como Jesus Cristo, mas nas últimas essa combinação é invertida: Paulo usa Cristo Jesus. Ele dificilmente escreve Jesus (2Co 11.4; Fp 2.10; ITs 4.14). O autor de Hebreus, por outro lado, chama o Senhor repetidamente pelo nome de Jesus (2.9; 3.1; 4.14; 6.20; 7.22; 10.19; 12.2,24; 13.15). Três vezes o autor de Hebreus usa a combinação Jesus Cristo (10.10; 13.8,21) e somente uma vez ele diz Senhor Jesus (13.20). A Epístola aos Hebreus, no entanto, não tem a combinação Cristo Jesus. O ponto mais significativo na consideração sobre se Paulo escreveu a Epístola aos Hebreus está relacionado com Hebreus 2.3. O escritor,que se inclui em sua advertência para prestar atenção à Palavra de Deus, diz, como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação? A qual, tendo sido anunciada inicialmente pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram.” Numa forma esquemática, temos a seguinte seqüência:

Esta salvação que
1. primeiro foi anunciada pelo Senhor
2. por aqueles que a ouviram
3. foi confirmada para nós

Pode-se tirar daí a conclusão de que o escritor não tinha ouvido o Senhor pessoalmente, mas teve de confiar no relatório de outros. Paulo, logicamente, afirma categoricamente que ele não recebeu o evangelho de nenhuma outra pessoa, mas de Jesus Cristo (01 1.12). Paulo ouviu a voz de Jesus na estrada de Damasco (At 9.4; 22.7; 26.14). E Jesus falou-lhe posteriormente (At 18.9,10; 22.18-21). Paulo, portanto, não poderia ter escrito as palavras de Hebreus 2.3.

Barnabé

Tertuliano, em torno de 225 d.C., sugeriu que Barnabé era o escritor de Hebreus. Ele fez essa afirmação baseado nas credenciais de Barnabé dadas em Atos 4.36,37: “José, a quem os apóstolos deram o sobrenome de Barnabé, que quer dizer filho de exortação, levita, natural de Chipre, como tivesse um campo, vendendo-o, trouxe o preço e o depositou aos pés dos apóstolos.” Como um levita, Barnabé era totalmente familiarizado com o sacerdócio levítico. Além disso, ele tinha vindo da ilha de Chipre, onde provavelmente aprendeu bem a língua grega. Ele estava familiarizado com a igreja e suas necessidades. Assim, ele era eminentemente qualificado para escrever a Epístola aos Hebreus, de acordo com Tertuliano. O ponto fraco dessa posição é que não tem encontrado nenhum apoio na história do cânon. Tertuliano não conseguiu nenhum seguidor e sua sugestão tem sido vista como uma curiosidade.

Priscila

o último nome que tem sido proposto para resolver a questão da autoria é o de Priscila. Ela, juntamente com seu esposo Áquila, instruíram Apolo (At 18.26). Mas Priscila não podia ter escrito Hebreus porque no original grego de Hebreus 11.32, o escritor usa um particípio com uma terminação masculina quando se refere a si mesmo: “Certamente me faltará tempo para referir o que há a respeito de Gideão....”

Conclusão

Nós simplesmente dizemos com Origines, “Mas quem escreveu a epístola, certamente só Deus sabe”.
Em última análise, a autoria não é importante. O conteúdo da epístola é o que importa.

Autor : Simon Kistemaker ( Editado por Hamiltom Freire)

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