segunda-feira, 26 de maio de 2014

DESENVOLVA A VOSSA SALVAÇÃO


“De sorte que, meus amados, assim como sempre obedecestes, não só na minha presença, mas muito mais agora na minha ausência, assim também operai a vossa salvação com temor e tremor; Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade.Filipenses 2:12-13

A salvação recebida (2.12)

A salvação não é uma conquista do homem, mas um presente de Deus. Ela é nossa, não por direito de conquista, mas por dádiva imerecida. A salvação não é um prêmio pelas nossas obras, mas um troféu da graça de Deus. Há duas verdades que merecem ser destacadas aqui:
                                                                                  
Em primeiro lugar, a salvação é um presente de Deus a nós, e não uma conquista nossa (2.12). Quando o apóstolo Paulo diz: “... desenvolvei a vossa salvação...” (Fp 2.12; grifo do autor), ele não está afirmando que ela nos pertence por direito de conquista. Ela é nossa porque nos foi dada. Ela é nossa porque alguém a comprou por um alto preço e deu gratuitamente. A nossa salvação foi comprada por um alto preço. Ela não foi comprada por prata ou ouro, mas pelo precioso sangue de Cristo (IPe 1.18,19).

Em segundo lugar, a salvação verdadeiramente nos pertence (2.12). Muitos cristãos, por não estarem arraigados nas doutrinas da graça, ficam inseguros acerca desse ponto, pensando que a salvação nos é dada num momento e tomada em outro; que podemos estar salvos num dia e perdidos no outro. Isso é absolutamente impossível. A salvação é um presente que nos foi dado para sempre (Rm 8.1). Uma vez salvo, salvo para sempre (Rm 8.31-39). Uma vez membro da família de Deus, jamais seremos deserdados (Rm 8.17). Uma vez ovelha de Cristo, jamais alguém poderá nos arrancar da mão de Cristo (Jo 10.28). Paulo diz: “... desenvolvei a vossa salvação...” (Fp 2.12; grifo do autor). O estudioso da língua grega H. C. G. Moule diz que a palavra “vossa” é fortemente enfática.

A salvação desenvolvida (2.12,13)

Destacamos aqui cinco pontos:

Em primeiro lugar, a soberania de Deus não anula a responsabilidade humana (2.12). Há dois equívocos muito comuns acerca da salvação: o primeiro deles é pensar que a salvação é o resultado do esforço humano. A maioria das religiões prega que o homem abre o seu próprio caminho rumo a Deus. Por conseguinte, a salvação é o resultado de mero esforço humano.

O segundo equívoco é pensar que a salvação é uma parceria do homem com Deus. O sinergismo prega que a salvação é resultado da obra de Deus conjugada com a cooperação humana. O versículo 12 não diz: “trabalhai para a vossa salvação”, mas “desenvolvei a vossa salvação”. Ninguém pode desenvolver a sua salvação a não ser que Deus já tenha trabalhado nele.
A verdade bíblica insofismável é que a salvação é obra exclusiva de Deus. Contudo, o fato de Deus nos dar graciosamente a salvação, não significa que ficamos passivos nesse processo. A salvação é de Deus e nos é dada por Deus, mas precisamos desenvolvê-la. Corretamente Robertson afirma que a graça de Deus não é uma desculpa para não fazermos nada. Antes, ela é uma forte razão para fazermos tudo. Tanto na religião quanto na natureza, somos cooperadores de Deus (IC o 3.6-9). Nós plantamos e regamos, mas Deus dá-nos a semente, o solo, envia o sol e a chuva e faz a semente crescer e frutificar.

William Hendriksen interpreta corretamente quando diz que a palavra “desenvolvei” traz a ideia de um esforço contínuo, vigoroso, estrénuo: “Continuem a desenvolver”. Embora, salvos de uma vez por todas quando cremos em Jesus, os crentes não são salvos de um só golpe (por assim dizer). Sua salvação é um processo (Lc 13.23; At 2.47; 2Co 2.15). É um processo no sentido em que eles mesmos, longe de permanecerem passivos ou inativos, tomam parte ativa. E um prosseguir, um seguir após, um avançar com determinação, uma contenda, uma luta, uma corrida (Rm 14.18; ICo 9.24-27; lT m 6.12).

Warren Wiersb ainda nos ajuda na compreensão desse verbo “desenvolvei”. Ele diz que esse verbo tem o sentido de “trabalhar até a consumação”, como quem trabalha em um problema de matemática até chegar ao resultado final. No tempo de Paulo, esse termo também se referia a “trabalhar em uma mina” extraindo dela o máximo possível de minério valioso, ou “trabalhar em um campo” obtendo a melhor colheita possível. O propósito que Deus deseja que alcancemos é a semelhança com Cristo (Rm 8.29).

Recebemos de graça essa gloriosa propriedade; mas, agora, precisamos cultivá-la. Não a cultivamos para possuí-la, mas porque a possuímos. E F Bruce está correto quando diz que, neste contexto, Paulo não está exortando cada membro da igreja a empenhar-se na obra de sua salvação pessoal; Paulo está pensando na saúde e no bem-estar geral da igreja como um todo. Cada crente e todos os crentes, num corpo só, precisam prestar atenção a esse fato.

Em segundo lugar, a posse e o desenvolvimento da salvação produzem reverência, e não relaxamento (2.12). Quando Paulo fala em “temor e tremor”, não está falando de temor servil. Esse não é o temor de um escravo se arrastando aos pés do seu senhor. Não é o temor ante a perspectiva do castigo. Deus não é um policial ou guarda cósmico diante de quem devemos ter medo; nem, também, é um pai bonachão e complacente; ao contrário, Ele é majestoso, santo e misericordioso. Nosso grande temor deve ser em ofendê-lo e desagradá-Lo, depois de Ele ter nos amado a ponto de nos dar seu Filho para morrer em nosso lugar.
Nessa mesma linha de pensamento, F. F. Bruce escreve:

E evidente que a atitude recomendada pelo apóstolo aqui nada tem a ver com o terror servil; o apóstolo tranquiliza os crentes de Roma, dizendo: “[...] não recebestes o espírito de escravidão para outra vez estardes em temor” (Rm 8.15). Trata-se, antes, de uma atitude de reverência e profundo respeito, na presença de Deus, de extrema sensibilidade à Sua vontade, de consciência de nossa responsabilidade à vista de havermos de prestar contas perante o tribunal de Cristo.

Lightfoot diz que esse temor é uma espécie de ansiedade para fazer o que é certo. Robertson corretamente afirma que as pessoas hoje não tremem na presença de Deus e têm um fraco senso de temor. O grande sermão do evangelista Jonathan Edwards “Pecadores nas mãos de um Deus irado” não encontraria eco nos dias de hoje. Vivemos numa geração extremamente complacente. Ficaram para trás os dias em que os Puritanos falavam em agonia de arrependimento. As pessoas que mais tiveram intimidade com Deus foram as que mais se prostraram reverentes aos Seus pés. Os que tiveram uma visão da Sua glória foram aqueles que caíram prostrados no chão em reverente adoração. Hoje, muitos demonstram intimidade com Deus em palavras, mas uma imensa distância Dele na vida.

Em terceiro lugar, o desejo pela salvação é obra de Deus em nós (2.13). O apóstolo Paulo esclarece: “Porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar...”. Ralph Martin diz que não ficamos entregues a nós mesmos, nesta tarefa, pois Deus é quem efetua em nós tanto o querer quanto o realizar.

William Barclay diz que Deus é quem desperta o desejo Dele em nossos corações. E verdade que “nossos corações estão inquietos até que descansam Nele” e também que “nem sequer podemos começar a buscá-Lo a não ser que Ele já nos tenha encontrado”. O começo do processo da salvação não depende de nenhum desejo humano; só Deus é quem pode despertá-lo.

F. F. Bruce corretamente afirma que o Espírito realiza o que a lei não consegue realizar: a lei poderia dizer às pessoas o que deveriam fazer, mas não podia suprir-lhes o poder, nem mesmo a vontade de fazê-lo; o Espírito supre ambas as coisas (Rm 8.3,4; 2Co 3.4-6). Por intermédio do Espírito Santo, Deus “energiza” e “capacita” o Seu povo para as tarefas que Ele deseja que ele faça (IC o 12.4-7). Deus dá o desejo e a habilidade. Deus trabalha nos crentes e os crentes trabalham para Deus. Os crentes se tornam cooperadores de Deus.

Não há nenhum desejo em nós por Deus e pela Sua obra que não proceda do próprio Deus. Mesmo quando estamos desenvolvendo a nossa salvação, temos consciência de que é Deus quem está operando em nós mediante o Seu Espírito. Em última instância, não somos nós quem trabalhamos, mas Deus trabalha em nós e por nosso intermédio. O trabalho de Deus começa com a nossa vontade, e a vontade precede a ação. A parte da obra de Deus em nosso coração, jamais teremos a vontade livre quando se trata de realidades espirituais. Na verdade, não temos vontade livre em nenhuma coisa que envolva nossa capacidade física, intelectual e espiritual. Não temos capacidade de decidir por nós mesmos ter 50% a mais de quociente de inteligência. Não temos capacidade de decidir ter um centímetro a mais em nosso tamanho. De igual modo, não temos capacidade de escolher Deus. Somente Adão
antes da Queda teve livre-arbítrio. Somos como um homem à beira de um profundo abismo. Enquanto estivermos à beira do abismo, temos livre vontade. Entretanto, se cairmos nele, não teremos condições de, por nosso próprio esforço, sairmos de lá. Desde a queda de Adão, todos nós nascemos com a total incapacidade de escolhermos a Deus. Ninguém jamais pode desejar a Deus sem que primeiro Deus predisponha a Sua vontade. Ninguém pode fazer a vontade de Deus a não ser que o próprio Deus venha e o tire do abismo e lhe diga: “Este é o caminho, andai por ele”.

Werner de Boor apresenta essa. sublime verdade de forma esclarecedora, como segue:

Realmente, nenhum de nós poderá ter no coração o menor anseio por salvação se Deus não nos despertar previamente da condição de “mortos em delitos e pecados” (Ef 2.1) e nos atrair para a salvação. A cada um, porém, em quem Deus realizou isso, cumpre dizer agora com máxima seriedade: não brinque com essa salvação, siga-a realmente, não deixe escapar essa hora da graça, justamente porque ela não é apenas o seu próprio “estjdo de ânimo”, a sua própria ‘ideia”, mas a atuação decididamente divina em seu coração. O querer gerado por Deus - que responsabilidade isso traz para nós! Realmente só podemos aproveitar esse querer “com temor e tremor, em sagrada seriedade”!

Em quarto lugar, a continuação do processo da salvação também é obra de Deus em nós (2.13). William Barclay diz que a continuação desse processo depende de Deus sem a Sua ajuda, não se pode fazer nenhum progresso no bem; sem a Sua ajuda, nenhum pecado pode ser vencido Somente por meio da ação de Deus em nós, podemos superar o mal e praticar o bem. A verdadeira vida cristã não pode permanecer no mesmo lugar; deve estar em contínuo progresso.

O apóstolo Paulo diz que Deus é quem efetua em nós tanto o querer como o realizar (Fp 2.13). Não apenas o desejo, mas também toda obra realizada em nós é ação divina. A palavra grega usada por Paulo aqui é energein. William Barclay diz que sobre esse verbo precisamos observar duas coisas importantes: sempre é usado com respeito à ação de Deus; e sempre é aplicado a uma ação eficaz. Todo o processo da salvação é uma ação de Deus, e essa ação é eficaz porque é a Sua ação. A ação de Deus não pode ser frustrada nem ficar inconclusa; deve ser plenamente concluída.

William Hendriksen diz que, se não fosse o fato de Deus estar agindo em nós, jamais poderíamos desenvolver a nossa salvação. Ele ilustra essa verdade assim:

O ferro elétrico é inútil a menos que seu plugue esteja acoplado à tomada. À noite não haverá luz na sala a menos que a eletricidade flua pelos fios de tungsténio para dentro da lâmpada, cada filamento mantendo contato com os cabos que vêm da fonte de energia. As rosas do jardim não podem alegrar o coração humano com a sua beleza e fragrância a menos que extraiam sua virtude dos raios solares. Melhor ainda: “Como pode o ramo produzir fruto de si mesmo, se não permanecer na videira; assim, nem vós podeis dar, se não permanecerdes em mim” (Jo 15.4). Assim também os filipenses só poderão operar sua própria salvação permanecendo num vivo e ativo contato com seu Deus.

Em quinto lugar, a obra da salvação é resultado da vontade de Deus (2.13). A salvação é realizada por Deus em nós não contra a Sua vontade, mas em consonância com ela. A nossa salvação é o resultado da expressa vontade soberana de Deus. Tudo provém de Deus. Nossa salvação tem início e consumação na boa, perfeita e agradável vontade de Deus.

Então meus irmãos, desenvolvam a vossa salvação.


Hernandes Dias Lopes (Editado por Hamiltom Freire).

Um comentário:

  1. *Santificação* é que eu entendo por "desenvolver a Salvação".

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