sábado, 31 de maio de 2014

SEJA HOMEM!



Eu estava meditando nas últimas palavras de Davi, antes de sua morte, relatadas em 1 Reis 2:1:11. O Rei Davi, antes de morrer deu valiosas instruções ao seu filho Salomão. O novo rei deveria aprender como se comportar e a ter como prioridade aquilo que seria mais importante para a sua vida. Quero neste pequeno artigo expor as lições morais e espirituais que extraí dos primeiros versículos do texto.
Davi começa com uma frase firme e imperativa:
Eu vou pelo caminho de todos os mortais. CORAGEM, pois, e SÊ HOMEM! 1 Reis 2:2
Salomão tinha pela frente responsabilidades de homem e deveria se comportar como um. Nos dias de hoje, os garotões querem todos os privilégios de homem mas não agem como homem. São infantis, sem coragem de enfrentar a vida. Preferem passar horas tentando conquistar as "minas" no whatsapp ao invés de correr atrás de um bom emprego. Seria ótimo se os pais de hoje fizessem como Davi fez e como o meu pai também fez comigo: SEJA HOMEM! VOCÊ NÃO É MAIS UM MOLEQUE!

O MAIS IMPORTANTE...


Nos versos adiante Davi mostra o que é ser um homem de verdade:
- Guarda os preceitos do Senhor, teu Deus, para andares nos seus caminhos, para guardares os seus estatutos, e os seus mandamentos, e os seus juízos, e os seus testemunhos, como está escrito na lei de Moisés, para que prosperes em tudo quanto fizeres e por onde quer que fores; - 1 Reis 2:3
Davi não aconselha Salomão a ser homem segundo suas próprias forças. Pelo contrário, a hombridade do novo rei deveria vir da reverência ao Senhor e de uma busca incessante em obedecer sua Palavra.
Homem de verdade não é aquele que ostenta a quantidade de mulheres com quem saiu, nem o quanto é valente, e nem mesmo o valor de seu salário mensal. Homem de verdade também pode ser traduzido por homem de Deus. O verdadeiro homem luta contra seus desejos, contra o diabo e contra o mundo, só pra se fazer cumprir a Palavra de Deus.

De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo homem. Eclesiastes 12:13 (Palavras de Salomão, um homem que cometeu erros gravíssimos em sua vida mas no final, concluiu que buscar a Deus é o dever de todo homem.)

Paz!

Bruno Fernandes

sexta-feira, 30 de maio de 2014

“Mamãe Devia Ter Me Ensinado a Depender Financeiramente do Meu Marido – Parte 1″ por Simone Quaresma

Wybrand Hendriks (Dutch painter, 1744-1831) Milkmaid 1800“Depender emocionalmente e espiritualmente de meu marido já é difícil. Depender financeiramente já é demais!!” “Pedir dinheiro ao meu marido até para comprar um batom?? Nem pensar.” “E se acontecer alguma coisa de ruim? Se ele ficar doente, me abandonar ou morrer?” Estas e dezenas de outras perguntas povoam a mente das mulheres cristãs de nossos dias, quando descobrem que sua missão de mãe e de esposa não são compatíveis com prover financeiramente para uma família. Neste momento, quando ela se dá conta de que o trabalho que a aguarda é tão gigantesco que tomará praticamente todo seu tempo, as dúvidas sobre como sobreviverá sem seu próprio dinheiro e a possibilidade de depender exclusivamente do salário do marido as atormentam. Como viver apenas com um salário? Como poderemos tirar férias sem o meu 13º? E o planejamento da compra da casa própria, que eu pagaria mais da metade da prestação? Como trocaremos de carro? Como?! Só o salário dele não é suficiente!
Em Gênesis, quando a primeira família é formada, Deus dá a cada um, homem e mulher, suas principais funções. O homem é o líder, o que recebe a Lei de Deus e aquele que protege e cultiva o jardim. Ao homem cabia plantar e colher, prover o sustento de sua família (Gn 2.15). Mais tarde, depois da queda, vemos a reafirmação dos papéis de cada um. A maldição por causa do pecado que atinge a cada um, homem e mulher, são lançadas sobre sua esfera de ação, naquilo que o Senhor havia designado para que fizessem, nos mandatos que o Senhor fixou a cada um deles. “E à mulher disse: Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores darás à luz filhos; o teu desejo será para o teu marido e ele te governará”(Gn 3.16). E a Adão disse: …maldita é a terra por tua causa; em fadigas obterás dela o sustentodurante os dias da tua vida. Ela produzirá cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo. No suor do teu rosto comerás o teu pão.” (Gn 3.17-18). Neste texto, percebemos claramente que a maldição recaiu sobre a mulher no seu principal papel, o de mãe e esposa, e sobre o homem, no papel de provedor.
Também percebemos a mesma descrição dos papéis lá no Salmo 128.1,2 e 3: “Bem aventurado o homem que teme ao Senhor e anda nos seus caminhos”. Como se organiza a vida familiar deste homem que ama ao Senhor e quer pautar sua vida pelas ordens dadas por Deus? “Do trabalho de tuas mãos comerás, feliz serás, e tudo te irá bem. Tua esposa, nointerior de tua casa, será como a videira frutífera…” Percebem a disposição das coisas? Percebem que cada um está atacando uma área? Percebem que eles são uma equipe?
O que tem acontecido nos dias de hoje é que os dois estão saindo para obter o pão (o pão ou o luxo??), e ninguém fica “no interior da tua casa”. Marido e mulher têm corrido para fora de casa, ambos para cumprirem o papel de provedor que Deus deu ao homem, e o papel de mãe e esposa fica para ser ‘cumprido’ por empregadas, babás, sogras e creches. Todo mundo sai de casa, todo mundo desempenha o mesmo papel e deixa um rombo, naquilo que o Senhor ordenou para a família.
Numa empresa, por exemplo, se todos resolverem trabalhar na mesma função, como ficarão as outras? Como gerir um negócio que tem dez sócios que desempenham o mesmo papel? Esta empresa está fadada ao fracasso. Não é diferente com nossas famílias. Cada um tem sua área de ação, cada um tem responsabilidades que foram dadas por Deus e serão cobradas.
Não quero dizer com isso que mulheres casadas não possam gerar renda. Há muitos modos de fazê-lo. Conheço mulheres que vendem produtos de beleza, outras que revisam textos para editoras em casa. Eu mesma fiz e vendi bijuterias durante vários anos. A questão que estamos abordando aqui é quando a mulher delega suas responsabilidades com a casa, o marido e os filhos, para ganhar dinheiro, dentro ou fora de casa. Quando ela se sente responsável por prover a família, ou quando seu marido exige que ela contribua com o orçamento da casa, negando-se a ser o provedor de sua família, aí temos um problema instalado!
Mas o que será que leva as mulheres cristãs de hoje a abandonarem seus postos como cuidadoras de suas família e abraçarem com tanto afinco o papel de provedor dado por Deus ao homem? Gostaria de compartilhar com vocês algumas prováveis situações que as levam a isso, mostrar onde estão erradas e qual a solução para cada caso.
Medo de ter que pedir dinheiro até para um batom
Este é um medo clássico que brota no coração de mulheres imersas numa cultura feminista. Como será a minha vida se eu tiver que pedir dinheiro ao meu marido para minhas necessidades mais básicas? Seria muita humilhação!
Na verdade, pensar assim é ignorar por completo a forma como Deus designou que uma família funcionasse. Este pensamento provém de uma distorção dos padrões familiares instituídos por Deus. Isto é compartimentar a família, é não entender que os dois são um, que tudo que pertence a um, pertence ao outro, que todos os ganhos são destinados ao bem comum. O casamento não é uma união onde duas pessoas têm vidas paralelas, cuidam das próprias necessidades e apenas se encontram para jantar e dormir. O casamento é uma associação que visa o bem estar e o crescimento mútuo, onde tudo gira em torno do bem comum. E na área das finanças do casamento não poderia ser diferente!
Ouço muitas mulheres dizerem que se sentem humilhadas por não terem seu ‘próprio dinheiro’, por não ganharem um salário! Ora, o salário de seu marido é o seu salário! Ele foi constituído provedor exatamente para te sustentar! Isto não é um favor, é uma obrigação! Você foi constituída auxiliadora idônea justamente para dar a ele condições, ao ficar na retaguarda, para que ele vá o mais longe possível no trabalho e nos estudos, sem preocupação alguma, pois tem alguém de confiança cuidando de sua casa e dos seus filhos. Ele está livre para ganhar o sustento da família! Você está ali para suprir a casa enquanto ele está nas ruas! Não é esta a descrição da mulher virtuosa de Provérbios 31? Lá está aquela mulher trabalhadora, que levanta ainda noite para cuidar da casa, fazer roupas, vender o que sobra aos mercadores. Ali está ela, no interior de seu lar, dando ordens às criadas, atendendo ao bom andamento de sua casa e falando e instruindo com sabedoria. Ela cuida até dos necessitados ao redor. O coração do seu marido confia nela! Ele está livre para se assentar com os anciãos da terra e cumprir com seus deveres na sociedade. Ele tem toda a logística da casa funcionando bem! Ele é estimado entre os juízes que reconhecem como sua vida familiar é bem ordenada. Eles são um time!
Esta mulher parece se sentir humilhada por não estar, ela mesma, assentada entre os anciãos da terra? De forma alguma! Ela é, isso sim, louvada por seus filhos que a chamam ditosa, e por seu marido que reconhece seu magnífico trabalho na manutenção da boa ordem do lar e diz: “muitas mulheres procedem virtuosamente, mas tu a todas sobrepujas.”
Outro texto que nos trás à lembrança a justiça feita para com os que ficam na retaguarda é I Samuel 30. Naquela ocasião, Davi, fugitivo pelos desertos com seus homens, teve suas mulheres e crianças levados cativos pelos amalequitas. Na estratégia de recuperá-los, Davi ordenou que parte do grupo, que estava mais cansado, ficasse guardando a bagagem de todos. O restante partiu para a peleja e recuperaram as mulheres, crianças, gado e absolutamente tudo que os amalequitas haviam levado. Quando chegaram de volta, homens maus, chamados de filhos de Belial, sugeriram a Davi que desse aos homens que tinham ficado com a bagagem, apenas suas mulheres e crianças. Eles acharam que estes não tinham direito aos despojos. Mas Davi não concordou com esta injustiça: “Quem vos daria ouvidos nisso? Porque qual é a parte dos que desceram à peleja, tal será a parte dos que ficaram com a bagagem; receberão partes iguais. E assim, desde aquele dia em diante, foi isso estabelecido por estatuto e direito em Israel, até ao dia de hoje.” O princípio de justiça estabelecido aqui é o mesmo! Eles formavam uma equipe e, cada um cumpria a sua parte para que o alvo fosse alcançado e o ‘despojo’ era de todos, igualmente de todos!
Portanto, minha irmã, o dinheiro ‘do seu marido’ não é dele, é da família! E sendo dinheiro da família precisa ser usado para o bem comum, designado para as necessidades de todos e usado com o consentimento de ambos para suprir o todo! Não sinta vergonha de viver da forma como Deus ordenou.
Continua…
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simone* Simone Quaresma é casada há 24 anos com o Rev. Orebe Quaresma, pastor da Congregação Presbiteriana de Ponta da Areia em Niterói, Rio de Janeiro.
Professora de educação infantil, deixou a profissão para ser mãe em tempo integral de 4 preciosidades: Lucas (22 anos), Israel (20 anos), Davi (18 anos) e Júlia (16 anos). Ela mantém o blog Se Eu Gostasse de Ler…  de leituras diárias para os jovens da Congregação pastoreada por seu marido; trabalha com aconselhamento e estudos bíblicos com as mulheres da Congregação.

FONTE: http://www.mulherespiedosas.com.br/depender-financeiramente-do-meu-marido-1/

O CRISTÃO PODE FUMAR MACONHA ?

Para uma análise de um tema tão capcioso e que a muitos têm confundido, não devemos nos basear em pesquisas e análises que ao longo dos anos foram produzidas; não porque elas sejam inúteis, e sim porque não possuímos conhecimento o suficiente para julgar se tais experimentos estão certos. Para ilustrar, relembre quantas vocês já viu algum estudo dizendo que o café faz mal e depois outro de que faz bem; que vinho é bom para a saúde, mas que também ajuda a matar; que pessoas magras são mais saudáveis, mas que não é bom ser magro demais... As variações são inúmeras e por isso não nos ateremos a elas.

Falar em "poder fumar maconha" envolve alguns temas importantes, como a suficiência das Escrituras e o dever de cuidar de si próprio. Não nos delongaremos sobre a suficiência da Bíblia para os cristãos, vez que se este ponto não for aceito, de nada valerá a conversa; a Bíblia precisa ser a única regra de fé e conduta para todos, de maneira que se algum cristão não a tem como base de sua crença, é melhor rogar ao Senhor para que se apiede de sua vida. Noutro lado, temos o dever bíblico de cuidar do próprio corpo, o qual analisaremos.

A Bíblia orienta os crentes a apresentarem suas vidas ao Senhor de maneira semelhante a como Cristo viveu: "Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional" (Rm 12.1). Nosso Senhor Jesus Cristo veio à terra em cumprimento à lei, os profetas e os salmos (Lc 24.27, 44), para ser o cabeça da Igreja (Ef 1.22) e cumprir na Igreja toda a sua plenitude (Ef 1.23). Como puro cordeiro, Ele não somente morreu pelo injustos  eleitos (1Pe 3.18), mas também viveu para fazer a vontade do Pai (Jo 5.30). 

Desta forma, o primeiro indicativo de como devemos viver e se seria lícito fumar maconha, diz respeito a buscar uma vida parecida com a de nosso Salvador. Um problema, contudo, começa quando se inicia a seguinte pergunta: "mas Jesus não jogou futebol, por exemplo; também não surfou e não temos relatos de que tenha comido alguma costela com os discípulos". Para resolver este pequeno problema, é preciso notar que não estamos nos referindo a viver estritamente o que a literalidade da Bíblia diz que Cristo fez, porque a própria Escritura nos diz: "Jesus, pois, operou também em presença de seus discípulos muitos outros sinais, que não estão escritos neste livro" (Jo 20.30). Jesus fez inúmeras outras coisas que não estão relatadas, de modo que viver como Cristo viveu, tem referência à passagem bíblica: "Aquele que diz que está nele, também deve andar como ele andou" (1Jo 2.6), isto é, buscando fazer a vontade de Deus.

Dando seguimento, embora não conheçamos muitos crentes que fumem maconha, talvez alguns fumem sem saber se estão fazendo certo ou errado, acabando por pecar: "Mas aquele que tem dúvidas, se come está condenado, porque não come por fé; e tudo o que não é de fé é pecado" (Rm 14.23). Nesta passagem o apóstolo está instruindo os cristãos em Roma acerca da licitude de comerem tudo o que lhes posto à mesa e vendido para consumo, mas devendo sempre observar o irmão mais fraco (Rm 14.3). Certamente que Paulo não estava advogando o comer alimentos estragados e nitidamente danosos à saúde, e sim fazendo um contraponto à pretensa liberdade que muitos estava usando da maneira errada, sendo pedras de tropeço na vida dos mais fracos.

A liberdade cristã precisa ser corretamente entendida, pois quando lemos que "Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Portanto, permaneçam firmes e não se deixem submeter novamente a um jugo de escravidão" (Gl 5.1), devemos ter em mente que o apóstolo Paulo, na carta aos gálatas, estava tratando da judaização do cristianismo, devido a que muitos estavam voltando às antigas práticas, desejando introduzir antigos ritos na igreja, fazendo com que o sacrifício de Cristo fosse negado. Os irmãos na Galácia precisavam compreender que a liberdade para qual haviam sido chamados, fazia com que eles não mais vivessem na "sombra das coisas futuras" (Cl 2.17) e passassem a viver na realidade, em Cristo Jesus.

Assim, se alguém fuma maconha ou faz qualquer outra coisa sob a desculpa de que "é livre", demonstra que não entendeu a Palavra da Verdade e precisa a ela dedicar tempo, a fim de a ter como única coluna basilar de sua vida.

Diante disso, após termos ciência da necessidade de vivermos como Cristo e não escandalizarmos nossos irmãos, tenhamos em mente um versículo de suma importância: "Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus" (1Co 10.31). A pergunta que poderá responder nossa indagação sobre se é lícito fumar maconha, será: é possível fumar maconha para a glória de Deus?

Geralmente esta pergunta - "é possível [atividade/atitude] para a glória de Deus?" - é respondida por algumas pessoas como sendo impossível fazer todas as coisas para a glória de Deus. Bem, se isso é verdade, então Deus é mentiroso, afirmando que deveríamos fazer uma coisa que não pode ser feita. Graças ao bondoso Senhor, sabemos que é possível fazermos todas as coisas para o Seu louvor, conforme links no final deste artigo. Mas no que consiste fazer todas as glórias de Deus? Talvez um excelente resumo seja: "Filho meu, guarda as minhas palavras, e esconde dentro de ti os meus mandamentos" (Pv 7.1); "Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e permaneço no seu amor" (Jo 15.10).

Guardar os mandamento do Senhor indica que O amamos e permanecemos em Sua palavra. Evidente que, conforme já salientou o reformador Matinho Lutero, os mandamentos de Deus demonstram nossa fraqueza, pois vemos o quão altos são e chegamos à conclusão dada por nosso Salvador: "sem mim nada podeis fazer" (Jo 15.5). Falar em obedecer os mandamentos não significa alcançar a salvação por meritocracia, e sim buscar viver de acordo com a graça do Senhor que habita na Igreja pelo Seu Espírito Santo, conforme lemos: "Mas pela graça de Deus sou o que sou; e a sua graça para comigo não foi vã, antes trabalhei muito mais do que todos eles; todavia não eu, mas a graça de Deus, que está comigo" (1Co 15.10). Portanto, não nós, mas a bondade do Senhor para conosco.

Tendo por certo que devemos guardar os mandamentos do Senhor, mesmo sabendo que iremos fraquejar (daí a necessidade de entendermos que eles somente podem ser cumpridos em Cristo, em quem somos adotados - Ef 1.5), notamos que a Escritura prescreve os frutos do Espírito Santo atuando na Igreja, os quais estão elencados no capítulo cinco da carta aos gálatas: "Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança" (Gl 5.22).

É preciso sempre notar que os frutos do Espírito Santo não são a mesma coisa dos dons do Espírito Santo. Os crentes possuem dons variados (1Co 12.29-30), segundo a boa vontade de Deus, porém os frutos do Espírito Santo devem habitar em todos os crentes, sem qualquer excessão. Nenhum crente pode ter falta de amor, gozo (alegria), paz e os demais elencados. Não é uma faculdade ter alguns deles, e sim uma obrigação; ou melhor, se alguém não os possui, não tem o Espírito do Senhor. Novamente, convém lembrar que tais dons não são manifestos de maneira plena da vida dos crentes, pois ainda lutamos contra as concupiscências da vida (Rm 7.4-25) - mas um fato notável é que todos precisam frutificar de acordo com a Palavra.

Importa observar que um dos frutos do Espírito Santo é a "temperança" ou "domínio próprio". A palavra no grego original é Egkrateia [1] e significa "domínio próprio, a virtude dos que dominam seus desejos e paixões". Este significado é de grande importância, porque dominar os desejos e paixões, ainda que não em plenitude de perfeição, é uma clara demonstração da libertação que o Evangelho causou: "E, libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça" (Rm 6.18). Agora, porque o crente não é mais escravo do pecado, pode resistir à tentação (Tg 4.7) e a vencer pelo sangue do Cordeiro. Isto implica em que se alguma coisa escraviza o crente (drogas, futebol, internet, alguma amizade, dinheiro, fama...), o mesmo precisa buscar guarida junto ao Refúgio (Salmo 46) e buscar saber se controlar.

Em contraponto aos frutos do Espírito Santo, a Escritura nos revela os frutos da carne: "Porque as obras da carne são manifestas, as quais são [...] feitiçaria" (Gl 5.19-20). A palavra que temos traduzido por "feitiçaria" (em boa parte das traduções), no grego original é Pharmakeia [2] e significa "o uso ou a administração de drogas de envenenamento/intoxicação, feitiçaria, artes mágicas, geralmente em conexão com a idolatria e promovendo a mesma". Não é preciso muito malabarismo para se entender que a partir desta palavra surgiu "farmácia", ou como era nos tempos antigos, "drogaria".

O fato é que a Bíblia revela ser uma obra da carne, ou seja, não vinda do Espírito Santo, a manifestação de Pharmakeia, o uso de substâncias que trazem malefícios ao corpo, podendo ser acompanhada de outros rituais (é como o uso de drogas em determinadas seitas, a fim de alcançar um outro "estado de espírito"). Por isso, aqui temos um precioso indicativo bíblico sobre a necessidade do cristão vigiar sobre o que come, bebe ou realiza, a fim de verificar se não está incorrendo em Pharmakeia; se não está utilizando de drogas (lícitas ou ilícitas) para "viajar" ou ficar mais "relaxado".

Neste deságue, temos outros exemplos bíblicos de intoxicação, como em Romanos 13.13: "Andemos honestamente, como de dia; não em glutonarias, nem em bebedeiras, nem em desonestidades, nem em dissoluções, nem em contendas e inveja". A palavra "bebedices" é Methe [3] em grego e significa "intoxicação, embriaguez" - é a mesma palavra usada em Lucas 21.34 e Gálatas 5.21. Também lemos: "E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito" (Ef 5.18) - aqui a palavra é Methusko [4] e significa "se intoxicar, ficar bêbado, vir a estar intoxicado".

Neste instante, alguém pode vir pensar: "mas muitas outras coisas também intoxicam! Mortes pelas complicações da diabetes, álcool, frituras, fast-foods, embutidos... Muitas coisas intoxicam!". Tal questionamento é certo e precisa ser ponderado, afinal, que diferença existe entre um crente que consome altas quantidades de fritura e um que fuma maconha? Ambos não prejudicam o próprio corpo? O que vive comendo doçuras e está bem acima do peso, não comete tamanho pecado e demonstra não ter domínio próprio?

É preciso, por isso, atentarmos para as palavras de Cristo: "E por que atentas tu no argueiro que está no olho de teu irmão, e não reparas na trave que está no teu próprio olho?" (Lc 6.41). Inúmeras vezes os cristãos acabam por "tornar demoníaca" certas coisas e se esquecem de que praticam tantas outros pecados diante do Senhor. Para ilustrar, há algum tempo atrás um irmão me indagou acerca de um grupo de amigos seus (cristãos) que estavam usando Narguile para fumar, o que o estava deixando espantado; questionei-o, então, que mesmo concordando em não ser lícito fumar aquilo (pois segundo consta, possui sérias consequências para o corpo - tão ruins quanto ou pior que o cigarro), muitas vezes ele mesmo comia e ingeria bebidas maléficas para sua saúde, devendo ser cauteloso quanto ao "zelo" pela santidade, afinal, muitas vezes não se enxerga o próprio erro.

Creio, todavia, que mesmo entendendo o até aqui exposto, alguns crentes podem se lembrar do seguinte versículo: "Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas edificam" (1Co 10.23). Tal versículo é usado, frequentemente, como um respaldo para dizer, "bem, eu até poderia fazer isso ou aquilo, mas não convém". Este pensamento reflete a ideia de que todas as coisas são lícitas - absolutamente tudo -, mas que algumas é melhor não fazer. A grande questão é que o versículo seguinte explana o real entendimento: "Ninguém busque o proveito próprio; antes cada um o que é de outrem" (1Co 10.24). O combate do apóstolo era contra a pretensa liberdade de fazer, dentre as coisas lícitas, algumas que levavam os irmãos a se escandalizarem, e não que qualquer coisa no mundo seria lícita ao crente!

Em vias de finalização, sabemos que a maconha, assim como tantas outras plantas, foram criadas por Deus - o próprio tabaco, inclusive. Se Ele criou todas estas coisas, então elas são "boas", pois "viu Deus que era bom" (Gn 1.12). Mas o fato de algo ser bom, não significa que o modo como se utiliza é igualmente puro, além do que, o pecado corrompeu todas as coisas, trazendo "Espinhos, e cardos" (Gn 3.18) à terra, fazendo com que a criação sofra as consequências da desobediência: "Porque sabemos que toda a criação geme e está juntamente com dores de parto até agora" (Rm 8.22). 

Como exemplo, de algo bom, mas que sendo usado de maneira errada, pode trazer prejuízos, é o caso dos animais - não é qualquer pecado matar animais para os comer (Gn 9.3), mas seria um pecado comer o animal sem o cozinhar e não observando algumas regras sanitárias, vindo a trazer inúmeras doenças; ou noutro sentido, assar o animal ainda vivo, desprezando o sofrimento do mesmo, o que é estaria em completa desarmonia com o governar e cuidar da criação de Deus (Gn 2.15).

Assim, podemos finalizar este breve artigo da seguinte forma: a maconha foi criada por Deus e na medicina possui a sua validade, tal qual inúmeras outras plantas; não deve, porém, ser usada para o consumo por meio de "baseados", pois nenhum benefício traz ao ser que faz uso desta maneira (não preciso discorrer sobre os efeitos maléficos). Por outro lado, os que não fumam maconha, devem olhar para a "trave" que está em seus olhos e perceberem que, conquanto não fumem esta erva, consomem inúmeras outras "porcarias", de maneira que não possuem nenhuma razão para se acharem mais ou menos crentes do que aqueles que fumam, pois ambos estão errados.

Que a graça de nosso Senhor esteja com todos os que O amam em sinceridade (Ef 6.24).
Filipe Machado

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Carta ao Giovani - Um crente que usa o celular durante o culto

*A presente carta é de gênero fictício, embora contenha situações da vida real.

Olá, Giovani. 

Como você já deve ter lido, a Bíblia afirma que não devemos repreender o rebelde, aquele indivíduo orgulhoso e que não deseja aprender, mas, sim, ao sábio, pois este ama ser guiado na sã doutrina - "Não repreendas o escarnecedor, para que não te odeie; repreende o sábio, e ele te amará" (Pv 9.8). Desta forma, quero crer que a presente carta é dirigida a você como sendo sábio, alguém prudente, mas que atualmente tem tido uma certa atitude que não condiz com a vida cristã.

Veja, querido Giovani, que tenho reparado (assim como outras pessoas) em sua atitude durante o culto ao Senhor. Embora demonstre interesse pela Palavra, muitas vezes quando os olhos se voltam para você, vejo que estás de cabeça baixa, mas não para orar ou meditar, e sim para utilizar o seu celular. É bem verdade que este dispositivo móvel é uma grande bênção e em situações excepcionais pode ser utilizado durante o culto, para o caso de uma chamada de emergência ou uma mensagem que necessite de resposta imediata; creio, porém (e tenho certas testemunhas que corroboram este entendimento), que não seja o seu caso.  Certamente não estou me referindo a usar o celular para gravar o culto ou mesmo como o antigo bloco de anotações, e sim às atividades frívolas e que não condizem com o culto ao Senhor. Deixe-me explicar melhor.

A Bíblia, sob a égide do Novo Testamento, afirma que não existe mais um santo lugar para adorar ao Senhor, como Jesus disse àquela mulher: "crê-me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai" (Jo 4.21). Assim, o local onde junto congregamos, não se torna mais santo do que o seu quarto, pois "Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade" (Jo 4.24), seja onde você estiver, afinal, "quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus" (1Co 10.31). Entretanto, não é porque o local deixe de ter alguma santidade maior, que isto enseje razão para brincarmos durante o culto.

Sei que ainda você não leu o Antigo Testamento inteiro, embora já devesse ter lido, pois há alguns tempo você professa a fé Cristo, mas importa notar que durante as cerimônias daquele tempo, havia uma santíssima reverência do povo à palavra pregada, às admoestações e exortações. No Novo Testamento também, como, por exemplo, quando o autor escreve aos Hebreus no capítulo 12, versículos 18 até 29. Note que aquele autor se dirige aos crentes judeus e diz que os antepassados "não podiam suportar o que se lhes mandava: Se até um animal tocar o monte será apedrejado ou passado com um dardo. E tão terrível era a visão, que Moisés disse: Estou todo assombrado, e tremendo" (Hb 12.20-21). Durante a manifestação de Deus no Monte Sinai, ninguém deveria tocar no monte, sob pena de ser morto. Todavia, diz o autor que agora, "chegastes ao monte Sião, e à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial, e aos muitos milhares de anjos" (Hb 12.22), isto é, se anteriormente o povo não poderia tocar no monte, agora a Igreja chegou como que àquele monte, à cidade do Deus vivo e à Jerusalém celestial, isto é, a realidade do que aquilo era a sombra!! Note, ademais, como há uma firme admoestação ao povo: "Vede que não rejeiteis ao que fala; porque, se não escaparam aqueles que rejeitaram o que na terra os advertia, muito menos nós, se nos desviarmos daquele que é dos céus" (Hb 12.25). E finaliza dizendo: "Porque o nosso Deus é um fogo consumidor" (Hb 12.29).

Perceba, desta forma, que conquanto não estejamos mais diante do Monte Sinais em chamas, a mesma visão que fez Moisés dizer "Estou todo assombrado, e tremendo" (Hb 12.21), é a que hoje fala por meio dos presbíteros, isto é, dos pastores. Tanto é verdade, que logo adiante na mesma carta, o autor escreve dizendo: "Obedecei a vossos pastores, e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossas almas, como aqueles que hão de dar conta delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil" (Hb 13.17). Certamente que não estou dizendo que você deve obedecer cegamente ao que ouve do púlpito, porque é um dever de todo o crente examinar a Escritura, a fim de saber "se estas coisas eram assim" (At 17.11), mas subsiste o dever imperioso de atentar para o momento do culto, pois o vosso pastor cuida de sua vida.

Neste mister, Giovani, lembre-se que o dever de obedecer ao pastor, não é o fim, mas o meio. Quer dizer, quando Jesus diz que quando fizemos o bem à família da fé (1Tm 5.8), "a mim o fizeste" (Mt 25.40), se depreende o entendimento de que quando recebemos algo de alguém - o que inclui a pregação da palavra -, estamos recebendo o próprio Senhor, conforme Ele registra em Sua Palavra: "E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores [...] Querendo o aperfeiçoamento dos santos [...] Até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo" (Ef 4.11-13 - grifado agora).

Entenda, amado irmão, que uma vez que a Igreja do Senhor deve ser unida para mútua cooperação (Ef 4.1-7), você deve cessar com suas mensagens de celular, jogos e demais distrações durante o culto, pois muito embora, como já dito, você não esteja em um local mais santo do que os demais, quando você se reúne com os irmãos, se empenha em juntos louvarem ao Senhor e d'Ele aprenderem mais. Assim, é uma ofensa a Deus que ordenou pastores para edificação de Seu povo, quando você faz pouco caso da pregação. Ainda neste deságue, sua distração com o celular, além de lhe prejudicar, atrapalha outros irmãos que pretendem prestar a atenção no culto.

Por fim, mas não menos importante, jamais se esqueça, sem querer se redundante, que o culto não termina quando acaba, ou seja, ainda que o pastor tenha cessado sua pregação e até mesmo todos já tenham se despedido, é a partir deste momento que começa, talvez, uma das partes mais importante do culto: o viver aquilo que se ouvir, porque assim somos instados: "sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos" (Tg 1.22).

Que Deus lhe abençoe e lhe encaminhe ao firme temor do Senhor.
Filipe Machado

A GLÓRIA DA SEGUNDA CASA SERÁ MAIOR DO QUE A PRIMEIRA

“A glória desta última casa será maior do que a da primeira, diz o SENHOR dos Exércitos; e, neste lugar, darei a paz, diz o SENHOR dos Exércitos” (Ageu 2.9).

É com frequência que igrejas locais mudam de endereço, a fim de proporcionar melhorias aos seus membros, bem como em busca de maiores espaços, a fim de acomodar um maior número de pessoas. É frequente, também, que para promover esta busca e conferir uma grande importância a um espaço cúltico maior, muitos acabam usando a passagem de Ageu 2.9. A lógica é a seguinte: O primeiro “templo” comportava apenas 150 pessoas. Já este segundo possui a capacidade para 500 pessoas. Com isso, de acordo com eles, cumpre-se a Palavra do Senhor em Ageu, pois a glória da “segunda casa” é maior que a da primeira.

Meu propósito neste breve comentário é analisar a passagem citada em seu contexto, a fim de obter uma conclusão a respeito da maneira como a mesma é aplicada por aqueles que entendem que ela diz respeito a locais de culto cada vez maiores.
                                              
O Livro de Ageu

Ageu é conhecido como um dos profetas da restauração, o que significa que sua atuação profética se deu quando os judeus já haviam retornado à Terra Prometida. O livro tem início com a contextualização histórica: “No segundo ano do rei Dario” (1.1), ou seja, por volta de 520 a.C. Juntamente com Zacarias, Ageu profetizou durante o reinício da reconstrução do Templo, exatamente no ano 520 a.C. De acordo com O. Palmer Robertson, Ageu foi “a primeira voz profética a falar desde o tempo da restauração da nação”.

O primeiro tema a receber destaque na profecia de Ageu é o da reconstrução da “Casa do SENHOR”:

Assim fala o SENHOR dos Exércitos: Este povo diz: Não veio ainda o tempo, o tempo em que a Casa do SENHOR deve ser edificada. Veio, pois, a palavra do SENHOR, por intermédio do profeta Ageu, dizendo: Acaso, é tempo de habitardes vós em casas apaineladas, enquanto esta casa permanece em ruínas? Ora, pois, assim diz o SENHOR dos Exércitos: Considerai o vosso passado. Tendes semeado muito e recolhido pouco; comei, mas não chega para fartar-vos; bebeis, mas não dá para saciar-vos; vesti-vos, mas ninguém se aquece; e o que recebe salário, recebe-o para pô-lo num saquitel furado.

Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Considerai o vosso passado. Subi ao monte, trazei madeira e edificai a casa; dela me agradarei e serei glorificado, diz o SENHOR. Esperastes o muito, e eis que veio a ser pouco, e esse pouco, quando o trouxestes para casa, eu com um assopro o dissipei. Por quê? – diz o SENHOR dos Exércitos; por causa da minha casa, que permanece em ruínas, ao passo que cada um de vós corre por causa da sua própria casa (Ageu 1.2-10).

O povo de Israel estava sendo negligente em reconstruir o Templo, o lugar da habitação de Deus no meio do seu povo. A ordem de Deus era no sentido de que o povo abandonasse seu egoísmo e passasse a se preocupar com a casa do Senhor. A ideia passada pelo povo com a sua atitude era a de que Deus era irrelevante. Eles não sentiam falta do Templo, do lugar onde o Senhor era adorado, onde o sacrifício tipológico era realizado e o perdão anunciado.

A “Segunda Casa” Comparada com a Primeira

A partir do versículo 12 vê-se que o povo atendeu à ordem do Senhor por intermédio do profeta Ageu: “Então, Zorobabel, filho de Salatiel, e Josué, filho de Jozadaque, o sumo sacerdote, e todo o resto do povo atenderam à voz do SENHOR, seu Deus, e às palavras do profeta Ageu, as quais o SENHOR, seu Deus, o tinha mandado dizer; e o povo temeu diante do SENHOR”. A profecia inicial de Ageu se deu no primeiro dia do sexto mês (1.1), ao passo que a reconstrução do templo teve início no “vigésimo quarto dia do sexto mês” (1.15).

Cerca de um mês após o início da reconstrução (2.1), os anciãos que ainda tinham em sua lembrança o esplendor do templo construído por Salomão, ao verem as construções do segundo templo lamentavam a sua inferioridade estética em relação ao primeiro. Por isso, o Senhor Deus perguntou por intermédio do profeta Ageu: “Quem dentre vós, que tenha sobrevivido, contemplou esta casa na sua primeira glória? E como a vedes agora? Não é ela como nada aos vossos olhos?” (2.3). “Comparado com o anterior, o templo que eles estão construindo terá pouco da primitiva grandeza e beleza. Parecer-lhes-á como nada”. A comparação é feita entre a “glória” do primeiro templo e a aparente ausência de “glória” do segundo.

É importante recordar que o termo hebraico kabôd, traduzido como “glória” é usado em outros profetas com uma conotação diferente desta. Ezequiel, por exemplo, fala da kabôd para se referir à presença do Senhor no templo: “Como o aspecto do arco que aparece na nuvem em dia de chuva, assim era o resplendor em redor. Esta era a aparência da glória do SENHOR; vendo isto, caí com o rosto em terra e ouvi a voz de quem falava” (1.28). No capítulo 10, Ezequiel vê a kabôd do Senhor abandonando o templo, simbolizando que Deus não mais habitaria ali, não mais estaria presente de um modo especial e pactual: “Então, se levantou a glória do SENHOR de sobre o querubim, indo para a entrada da casa; a casa encheu-se da nuvem, e o átrio, da resplandecência da glória do SENHOR [...] Então, saiu a glória do SENHOR da entrada da casa e parou sobre os querubins” (vv. 4,18). Entretanto, Ageu “não aponta inicialmente para essa glória da presença de Yahweh. Antes, ele refere-se à beleza do templo de Salomão”.

Já no versículo 7, o termo kabôd possui a mesma conotação da profecia de Ezequiel. A referência é à presença do Senhor no seu templo. Enquanto os anciãos se lembravam da beleza e esplendor do templo de Salomão, Deus promete que o segundo templo, menor em tamanho e riquezas, possuirá uma glória plena, pois, diz o Senhor “encherei de glória esta casa”. O Senhor estava ensinando ao seu povo que, “a glória do templo não dependeria de sua forma exterior. Ao contrário, a glória é vista na própria presença de Yahweh”. A mensagem para aqueles que se encontravam chorosos e àqueles que concentram sua atenção na estrutura física do edifício cúltico, é que a beleza e o tamanho não influenciam ou diminuem a glória do local, mas sim a presença de Deus com o seu povo.

A Glória da Segunda Casa e Jesus Cristo

Deus prometeu que a sua presença encheria aquela casa de glória: “Ainda uma vez, dentro em pouco, farei abalar o céu, a terra, o mar e a terra seca; farei abalar todas as nações, e as coisas preciosas de todas as nações virão, e encherei de glória esta casa, diz o SENHOR dos Exércitos” (2.6-7). A grande questão é se a manifestação plena da glória de Deus estaria limitada àquele segundo templo que estava sendo construído na ocasião, ou se ela aponta apara algo além daquela edificação. A linguagem do profeta lembra o que aconteceu quando Davi se tornou rei de Israel. Várias nações reconheceram o seu reinado e enviaram presentes, coisas preciosas (2Samuel 5.11). O mesmo aconteceu com Salomão, filho de Davi (1Reis 5.8-10; 10.1-10). Não obstante, a referência é que as nações virão agora para contemplar a glória da casa do Senhor. Deus está falando de Cristo, que tanto era filho de Davi (Mateus 1.1) como a habitação permanente de Deus entre o seu povo (João 1.14). O. Palmer Robertson faz um comentário perspicaz a este respeito:

Este segundo abalo põe em destaque um único descendente de Davi, que possuirá poderes para agir com autoridade divina sobre todas as nações. Assim como o templo de Deus e o trono de Davi se fundiram no Monte Sião com a vinda da Arca para Jerusalém, assim também o profeta antecipa uma futura unificação gloriosa do culto divino e do domínio através de um monarca Davídico restaurado.

A interpretação de Calvino também leva em conta o elemento messiânico da profecia:

Mas nós podemos entender o que ele diz de Cristo, virá o desejo de todas as nações, e eu encherei esta casa com glória. De fato, sabemos que Cristo era a expectativa de todo o mundo, de acordo com o que foi dito por Isaías. E pode ser dito apropriadamente que, quando o desejo de todas as nações vier, isto é, quando Cristo se manifestar, em quem os desejos de todos convergem, então, a glória do segundo templo será esplendorosa.

Por esta razão é que o Senhor declara, no versículo 9: “A glória desta última casa será maior do que a da primeira”. A glória do segundo templo não possui nenhuma relação com o seu espaço físico ou com seus objetos de valor. A glória do segundo templo está direta e inextricavelmente relacionada com a vinda de Jesus Cristo. Por se tratar de um templo mais próximo da vinda do Messias do que o que fora construído por Salomão, o segundo seria mais glorioso. Diz o puritano Matthew Poole que, “o que Deus chama de glória deve ser bem melhor do que prata e ouro. Maior que a da primeira, verdadeiramente mais gloriosa, em muitos graus. O mínimo de Cristo tem glória maior que toda a magnificência de Salomão. Não existiram mais que duas casas erigidas por designação divina, e, na segunda, adentrou pessoalmente o Messias”.[7] Calvino afirma ainda que, não devemos imaginar, como alguns intérpretes “brutos”, que a glória futura do segundo templo dizia respeito às reformas empreendidas por Herodes, visando restaurar a suntuosidade do templo. Antes, de acordo com ele, “o que é dito aqui a respeito da glória futura do templo é aplicado à excelência daquelas bênçãos espirituais que apareceram quando Cristo foi revelado, e ainda continuam visíveis para nós através da fé”.

A conexão entre a glória do segundo templo e Jesus fica mais evidente com a continuação do versículo 9: “e, neste lugar, darei a paz, diz o SENHOR dos Exércitos”. No Antigo Testamento a promessa de paz sempre estava ligada à vinda do Messias: “O SENHOR dá força ao seu povo, o SENHOR abençoa com paz ao seu povo” (Salmo 29.11). O conceito veterotestamentário de paz carrega “a noção positiva de bênçãos, especialmente a de um correto relacionamento com Deus”. Isso fica evidente na bênção araônica, em Números 6.24-26: “O SENHOR te abençoe e te guarde; o SENHOR faça resplandecer o rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; o SENHOR sobre ti levante o rosto e te dê a paz”.

Além disso, as passagens proféticas do Antigo Testamento olham adiante para um período de paz que seria inaugurado pela vinda do Messias: “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz (Isaías 9.6); “Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém: eis aí te vem o teu Rei, justo e salvador, humilde, montado em jumento, num jumentinho, cria de jumenta. Destruirei os carros de Efraim e os cavalos de Jerusalém, e o arco de guerra será destruído. Ele anunciará paz às nações; o seu domínio se estenderá de mar a mar e desde o Eufrates até às proximidades da terra” (Zacarias 9.9-10). O profeta Ezequiel anunciou que através do Messias, Deus faria uma eterna aliança de paz com o seu povo: “Farei com eles aliança de paz; será aliança perpétua. Estabelecê-los-ei, e os multiplicarei, e porei o meu santuário no meio deles, para sempre” (37.26). Interessantemente, a ideia de um santuário, um templo ligado ao estabelecimento da paz também aparece na passagem de Ezequiel.

Isto posto, quando os discípulos estavam reunidos com Jesus no cenáculo, ouviram o seu Mestre dizer: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo”(João 14.27). Com toda certeza eles rememoraram as promessas escriturísticas a respeito do estabelecimento da paz pelo Messias, aquele que era o tabernáculo de Deus entre os homens.
É importante observar ainda que, Apocalipse 21.22 faz uma afirmação extraordinária a respeito da Nova Jerusalém: “Nela, não vi santuário, porque o seu santuário é o Senhor, o Deus Todo-Poderoso, e o Cordeiro”. G. K. Beale e Sean M. McDonough afirmam que, “João provavelmente entendeu estas profecias do Antigo Testamento como sendo cumpridas no futuro por Deus e Cristo substituindo o primeiro templo físico e a arca por sua gloriosa habitação, o que tornará a glória do primeiro templo diminuta”.

Conclusão

A glória do segundo templo não dizia respeito ao seu tamanho nem ao esplendor do material usado na sua construção – até porque, em comparação com o primeiro templo, o segundo foi capaz de despertar o choro dos anciãos que viram o que fora construído por Salomão. A glória da segunda casa estava ligada à vinda do Messias, de Jesus Cristo, o verdadeiro templo de Deus, o Emanuel, o Deus conosco.

Usar a passagem de Ageu 2.9 para recomendar um enorme espaço cúltico, com capacidade para abrigar milhares de pessoas é cometer duplo erro. Em primeiro lugar, comete-se o erro de torcer o sentido da passagem de acordo com o contexto do livro do profeta Ageu. A segunda casa cuja glória seria maior era pequena e destituída de ornamentos em comparação com a primeira. Mas muitos usam a passagem para falar de uma segunda casa maior que a que usavam até então. Em segundo lugar, comete-se o erro de desconsiderar Jesus Cristo, de se apegar às sombras do Antigo Testamento em detrimento daquele que dá sentido a todo ajuntamento solene e que enche de glória todo e qualquer lugar onde o povo de Deus está reunido para adorá-lo em espírito e em verdade.

Soli Deo Gloria!

Cristão Reformado

TRÊS MANEIRAS SURPREENDENTES DE OFENDER O ESPÍRITO SANTO



O Espírito Santo é frequentemente descrito como luz. Ele brilha nos lugares sombrios do coração e nos convence do nosso pecado (Jo 16.7-11). Ele é a lâmpada que ilumina a palavra de Deus, ensinando o que é verdadeiro e apresentando a verdade como sendo preciosa (1Co 2.6-16). E o Espírito lança um holofote em Cristo para que possamos ver a sua glória e sermos mudados (Jo 16.14). É por isso que 2 Coríntios 3.18 fala de se tornar mais como Cristo ao contemplar a glória de Cristo. Assim como Moisés teve a sua face transfigurada quando viu a glória do Senhor no Monte Sinai (Êx 34.29; 2Co 3.7), assim também nós seremos transformados quando, pelo Espírito, contemplarmos a glória de Deus na face de Cristo.
O Espírito, portanto, é uma luz para nós de três maneiras: ao expor a nossa culpa, ao iluminar a palavra de Deus e ao nos mostrar Cristo. Ou, para colocar de outra maneira, como Luz Divina, o Espírito Santo trabalha para revelar o pecado, revelar a verdade e revelar a glória. Quando fechamos os nossos olhos para essa luz ou depreciamos o que deveríamos ver através do seu brilho, somos culpados de resistir ao Espírito (At 7.51), ou apaga (1Ts 5.19) ou entristece o Espírito (Ef 4.30). Pode haver pequenas nuances entre os três termos, mas todos eles falam da mesma realidade básica: recusar-se a ver e saborear o que o Espírito quer nos mostrar.
Há, portanto, três maneiras de entristecer o Espírito Santo — três maneiras que podem ser surpreendentes, pois correspondem com as três maneiras pelas quais o Espírito age como luz para expor a nossa culpa, iluminar a palavra e nos mostrar Cristo.
Primeiramente, nós entristecemos o Espírito Santo quando o usamos como desculpa para a nossa pecaminosidade. 
O Espírito é a fonte do convencimento nos corações humanos. Quão triste é, portanto, quando os cristãos tentam usar o Espírito como licença para comportamentos impiedosos. Nós vemos quando pessoas — quer sejam genuinamente enganadas ou charlatães intencionais — declaram a direção do Espírito como a razão para seu divórcio anti-bíblico, ou por seu mau procedimento financeiro, ou por sua nova querida liberação sexual. O Espírito Santo sempre é o Espírito da santidade. Sua intenção é nos mostrar o nosso pecado  Se o Espírito Santo se entristece quando nos desviamos da justiça para o pecado, quão duplamente triste ele deve ficar quando declaramos a autoridade do Espírito para tal rebelião deliberada.
Em segundo lugar, nós entristecemos o Espírito Santo quando o fazemos competir contra as Escrituras. 
O Espírito trabalha para revelar a verdade da palavra de Deus, não para nos guiar para longe dela. Não há lugar na vida cristã para supor ou sugerir que a atenção cuidadosa à Bíblia seja de alguma forma antitética à sincera devoção ao Espírito Santo. Qualquer um que deseje honrar o Espírito fará bem em honrar a Escritura que ele inspirou como meio de iluminação.
Às vezes, cristãos citam a promessa em João 16.13 de que o Espírito “vos guiará a toda a verdade” como razão para esperar que a terceira pessoa da Trindade nos dará novas compreensões que não são encontradas na Escritura. Mas a “verdade” a que se refere João 16 é toda a verdade a respeito de tudo o que está ligado a Jesus Cristo, o caminho, a verdade e a vida. O Espírito revelará as coisas que virão, na medida que revela aos apóstolos (v. 12) o significado da morte, da ressurreição e da exaltação de Jesus. O Espírito, falando pelo Pai e pelo Filho, ajudaria os apóstolos a lembrar do que Jesus disse e entender o verdadeiro significado de quem Jesus é e o que ele conquistou (Jo 14.26).
Isso significa que o Espírito é responsável pelas verdades que os apóstolos pregaram e que, por sua vez, foram escritas naquilo que hoje chamamos de Novo Testamento. Nós confiamos na Bíblia — e não precisamos ir além da Bíblia — porque os apóstolos, e aqueles sob o guarda-chuva de sua autoridade, escreveram a Bíblia por meio da revelação do Espírito. A Bíblia é o livro do Espírito. Insistir em precisão exegética, rigor teológico e atenção cuidadosa à palavra de Deus nunca deveria ser rebaixado a encher as nossas cabeças de conhecimento, muito menos como de alguma maneira oposto à real obra do Espírito.
Terceiro, nós entristecemos o Espírito Santo quando sugerimos que ele tem ciúmes do nosso foco em Cristo. 
O trabalho do Espírito Santo é servir. Ele fala apenas aquilo que ouve (Jo 16.13). Ele declara o que lhe é dado; sua missão é glorificar a outro (Jo 16.14). Todas as três pessoas da Trindade são plenamente Deus, e ainda assim, na economia divina, o Filho torna conhecido o Pai e o Espírito glorifica o Filho. Sim, é algo terrível ser ignorante quanto ao Espírito e não é sábio negligenciar o papel indispensável que ele executa em nossas vidas. Mas não devemos pensar que podemos focar demais em Cristo, ou que quando exaltamos a Cristo à glória do Deus Pai, de alguma maneira o Espírito esteja aborrecido em um canto. O Espírito tem o objetivo de lançar luz em Cristo; ele não tem inveja que o faça lançar luz em si mesmo.
Exaltar a Cristo, focar em Cristo, falar muito e cantar com frequência sobre Cristo não são evidências de rejeição do Espírito, mas da obra do Espírito. Se o símbolo da igreja é a cruz e não a pomba, isso se dá porque o Espírito deseja que seja assim. Como J.I. Packer diz: “A mensagem do Espírito para nós nunca é: ‘Olhem para mim; me ouçam; venham a mim; me conheçam’, mas sempre: ‘Olhem para ele, vejam a sua glória; ouçam a ele e escutem a sua palavra; ide a ele e tenham vida; conheçam-no e provem do seu dom e da sua paz’”.
Novamente, saber nada a respeito do Espírito Santo é um erro sério (cf. At 19.2). Mas quando cristãos lamentam uma atenção exagerada em Cristo ou se queixam de ênfase demais à cruz, tais protestos entristecem o próprio Espírito. O Espírito Santo não está só à espera de ser notado e enaltecido. A obra dele não é brilhar vividamente diante de nós, mas lançar uma luz sobre a glória de Cristo. Contemplar a glória do Deus Pai na face do Filho Jesus Cristo não é marginalizar o Espírito Santo; é celebrar a sua graciosa obra entre nós.
Quer estejamos falando sobre santidade, sobre a Bíblia ou sobre Jesus Cristo, que nunca coloquemos o Espírito contra a própria coisa que ele deseja conquistar. Nós não honramos o Espírito ao tentar diminuir o que ele procura exaltar. E nós não seguimos os seus passos lançando outros (ou nós mesmos) na direção da própria coisa que o entristece mais.
Por: Kevin DeYoung; Original: Three Surprising Ways To Grieve The Holy Spirit; Site: thegospelcoalition.org Copyright © 2014 The Gospel Coalition.
Tradução: Alan Cristie; Original: Três maneiras surpreendentes de ofender o Espírito Santo.
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