Sempre que vou levar ou pegar minha filha na escola passo por esta
árvore da foto ao lado. Embora haja uma enorme quantidade de árvores no
trajeto, essa em especial se destaca e sempre chama minha atenção, por
uma característica específica: suas raízes. Elas são tão robustas e
vigorosas que conseguiram fazer algo aparentemente impossível:
levantaram a calçada de concreto e pedras, removendo completamente do
lugar pedaços sólidos e maciços do chão. Toda vez que observo aquele
bloco de rocha quebrado, me pego pensando na importância de ter raízes
fortes e inabaláveis. Na vida do cristão, essa é uma realidade bíblica.
Não sei se você sabe, mas a palavra “radical” se refere a “raiz”. Por
isso, quando você diz que alguém é “radical” em suas opiniões, isso
significa que tal indivíduo tem raízes bem fincadas naquilo em que crê. É
interessante que, nas últimas décadas, nossa sociedade passou a
enxergar alguém “radical” sob uma óptica negativa. O “radical” deixou de
ser um indivíduo consciente, que não negocia seus valores, firme em
suas crenças, sólido em suas virtudes; passou a ser alguém tapado,
intransigente, intolerante, desagradável, fundamentalista e chato.
A vontade que dá diante dessa realidade é a de tornar-se uma pessoa light,
não radical, do tipo que quer agradar todo mundo. Seria mais fácil e
conveniente. A questão, porém, é que Jesus é extremamente radical.
Você consegue ver, nos evangelhos, Jesus negociar aquilo em que crê? Não
é o que enxergo. Vejo um Cristo firme, com raízes muito bem fixadas,
que mantém-se fiel a sua ética e a seus valores, não importa a situação.
Jesus não barganha favores, não negocia a solidez de seu chão, não cede
ante argumentos, ameaças ou riscos. Ele foi até o fim, custasse o que
custasse – e custou bem caro: o preço de sangue.
Hoje as posturas do Cristo não são bem vistas na sociedade, em função,
claro, do pecado que nos cerca e, também, do momento histórico em que
vivemos. No século 20, surgiu um movimento filosófico chamado
“existencialismo” que influenciou enormemente o modo de a civilização
ocidental (em que eu e você vivemos) enxergar o mundo. Pensadores
influentes, como Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir (foto),
defendiam que nada é absoluto, tudo é relativo. É o que se chama
“relativismo”. Segundo esse pensamento, eu tenho a minha verdade, você
tem a sua e tudo está bem. Essa ideia faz com que eu seja o deus do meu
universo, pois aquilo em que creio tornam-se dogmas inquestionáveis. O
existencialismo criou ideias como “todos os caminhos levam a Deus” ou
“não importa o que você crê, a verdade é a sua verdade”. Soa lindo, se o
existencialismo não fosse antibíblico, pois o cristianismo tem
conceitos absolutos, enquanto no existencialismo tudo é relativo.
Esse pensamento invadiu a mentalidade das pessoas e hoje colhemos os
frutos amargos de viver em uma sociedade em que tudo é relativo. Porque
os meus e os seus valores bíblicos absolutos tornaram-se malvistos.
“Radical” deixou de ser um elogio e passou a ser um palavrão. Se
tivermos uma crença inabalável e se não negociarmos o que é inegociável
vão nos olhar de cara feia. Mas é impossível ser cristão e não ser
radical. Então prepare-se para pagar o preço de ter raízes profundas no
evangelho.
É fundamental frisar um aspecto extremamente importante dessa questão:
ser radical não tem nada a ver com uma imagem que em nossos dias tem
conquistado cada vez mais espaço entre nós, cristãos. De alguns anos
para cá, passamos a acreditar que ser radical é ser agressivo, é atacar
quem discorda de nós com palavras e um modo de ser ofensivos. Por
entendermos que o cristão tem de ser radical, assumimos um comportamento
verborrágico, de botar o dedo na cara de quem diverge de nossas
opiniões, de ofender cristãos ou não-cristãos que não compartilham
nossas ideias. Entenda, por favor: ser biblicamente radical não é nada
disso. O cristão com raízes bem fincadas em Cristo é manso, humilde,
argumenta sem elevar o tom de voz, usa de amor e graça com todos – todos.
Ser radicais nas nossas crenças e posturas absolutamente não significa
ser uma pessoa desagradável, que vive gritando, acusadora, de cenho
carregado, o “dono da verdade”. O radical dialoga, com paz no coração e
carinho na voz, para levar os demais ao conhecimento da verdade.
Infelizmente – mas infelizmente mesmo – vivemos em meio a uma
geração que usa redes sociais, YouTube, blogs, programas de televisão e
rádio e até púlpitos para disseminar uma agressividade incompreensível
“em nome de Deus”. Não é esse o caminho. Isso é um erro.
Ser um cristão radical – ou seria melhor dizer “fiel”? – tem seu preço.
Mas é um preço de abnegação e, muitas vezes, sofrimento. É negar-se a si
mesmo diariamente, tomar sua cruz e seguir Jesus. Quer ser um cristão
radical? Então você tomará um bofetão e terá de dar a outra face. Farão
mal a você e você terá de fazer o bem a seus agressores. Os elogios
cruzarão seu caminho, mas você terá de viver em humildade. O poder
chegará a suas mãos e você precisará lavar os pés de seus subordinados.
Seu marido será imperfeito e a submissão não deixará de vigorar. Sua
esposa será problemática mas ainda assim você a amará como Cristo amou a
Igreja. Seus pais errarão em muitas coisas e ainda assim você terá de
honrá-los. Ser radical é perdoar, preferir os outros em honra, fugir de
vãs discussões, não deixar o sol se pôr sobre a sua ira, amar a Deus
sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Isso é ser radical –
e agir como a Bíblia manda exigirá muito de você. Prepare-se.
Há outros caminhos? Sim, há. Você pode trair suas convicções. Pode
negociar com o mundo. Pode agir conforme os valores da sociedade
secular. Pode fazer tudo igual a todo mundo e diferente do que a Bíblia
estabelece como padrão cristão. É possível? Sim, é. Mas, quando a
tentação de não ser radical chega, lembro-me daquela árvore e me pego
pensando no que teria acontecido com ela caso suas raízes não fossem tão
fortes. Provavelmente, o peso das pesadas placas de pedra a esmagaria. A
força do chão a manteria pressionada e sabe Deus o que ocorreria àquela
árvore. Creio que morreria, pois não conseguiria suportar por muito
tempo. Acredito que o mesmo ocorre com o cristão cujas raízes são fracas
e não têm forças para firmá-lo quando chegam as tentações, as
dificuldades e os desafios da vida: ele definha espiritualmente e se
torna uma sombra pálida daquilo que Deus espera de cada um de nós. Aquela árvore sempre me lembra de que nossas raízes têm de estar
cravadas em Cristo, sem ceder um milímetro sequer. Sempre. A todo dia. A
toda hora. A todo instante. Só assim teremos forças suficientes para
quebrar o rígido e forte peso do pecado, das fraquezas, dos problemas.
Peço a Deus que, pela força da cruz, sejamos sempre amorosos, graciosos,
benignos, amáveis, pacificadores, perdoadores, caridosos e… radicais. Paz a todos vocês que estão em Cristo, Maurício Zágari Blog: Apenas1 http://apenas1.wordpress.com/2014/05/19/radicais-gracas-a-deus/
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